Tudo junto e misturado


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Recordando as privatizações

A preço de banana, sim

O falecido ministro Sérgio Motta previa que a privatização do
sistema Telebrás, isto é, das empresas telefônicas de todo o país,
renderia 35 bilhões de reais ao governo. Com a aproximação dos
leilões, e com base em estudos feitos por empresas de consultoria
internacionais, o governo acabou pedindo um preço mínimo quase
três vezes menor, ou 11,2 bilhões de reais – que, depois, por
motivos que veremos adiante, foi aumentado para 13,5 bilhões de
reais. Além de muito distante do dinheiro gordo previsto pelo então
ministro Sérgio Motta, esse valor representaria o recebimento
imediato de apenas 5,4 bilhões de reais, já que a entrada estava
fixada em 40% do valor total. No final das contas, as teles foram
compradas com ágio e renderam 22,2 bilhões, com uma entrada
de 8,8 bilhões de reais (os 40%). O preço ficou nada menos de 13
bilhões abaixo da cifra acenada pelo antigo ministro das Comunicações.
Mas há detalhes ainda mais duvidosos na privatização das
teles, como os investimentos feitos pelo governo a partir de 1996
no sistema e os “erros” nos cálculos dos preços cometidos pelas
consultorias internacionais, e oficialmente reconhecidos. A venda
da Telebrás é apenas um dos exemplos das perdas que teve o
país com as privatizações.


Subtrair, subtrair...

Em 1996 e 1997, já decidida a privatização, o governo investiu
16 bilhões reais no sistema Telebrás e, somente no primeiro semestre
de 1998, às portas do leilão realizado em julho, mais 5 bilhões
de reais. No total, 21 bilhões de reais, praticamente mais de
duas vezes e meia (250%) os 8,8 bilhões de reais recebidos de entrada
pela sua privatização.
Há mais, porém. O sistema Telebrás, graças ao descongelamento
rápido das tarifas e à expansão do número de linhas e serviços
trazidos por aqueles investimentos do governo, apresentou
faturamento e lucros crescentes, que chegaram aos 4 bilhões de
reais em 1997 – e pela lógica continuariam a crescer nos anos seguintes.
Além disso, não se pode esquecer o cálculo do retorno
que o governo poderia obter sobre esse dinheiro aplicado nas teles:
mesmo a juros médios de 20% ao ano, baixíssimos em relação ao
padrão brasileiro naquele período, os 21 bilhões gastos pelo governo
deveriam render aproximadamente 9 bilhões de reais nos
mesmos 30 meses.
E os demais investimentos realizados ao longo de décadas, antes
de 1996, para formar o patrimônio da Telebrás? Não entram
no preço da venda? Não. É isso que a maioria dos brasileiros não
entendeu até hoje – e por isso aceita passivamente a entrega das
estatais aos preços anunciados. O preço de venda das estatais não
leva em conta o patrimônio que elas acumularam, o critério é
outro: simplificadamente, calcula-se todo tipo de faturamento
que a empresa poderá ter nos próximos anos: desse faturamento,
subtraem-se as despesas previstas (para a empresa operar, funcionar),
levando-se em conta, ainda, os juros que o “comprador”
deveria receber, ao longo desses mesmos anos, sobre o capital
aplicado.
Em lugar do valor dos bens que a empresa acumulou, levam-se
em conta os lucros que ela deve oferecer ao longo de determinados
períodos: no caso da Telebrás, de dez anos, de 1998 a 2007. O
fato é que os preços recomendados por essas consultorias, geralmente
multinacionais, sempre provocaram críticas, por serem
considerados excessivamente baixos. A Rede Ferroviária Federal,
por exemplo, teve uma avaliação absurdamente baixa, de apenas
33% do valor apontado por técnicos, isto é, seu preço mínimo deveria
ter sido aumentado em 200%. O exemplo da Telebrás mostrou
que as críticas são plenamente justificáveis, com critérios – e
até erros – absolutamente inexplicáveis.

Trecho extraído do livro O Brasil Privatizado de Aloysio Biondi, Que você pode fazer o Dowload, vedado para uso comercial.

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José Serra, os porquinhos e a matemática.

Esses videos mostram como se faz necessário a saída do sapo barbudo analfabeto e ignorante, para a entrada de alguém culto e versado em todos os assuntos.

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